Por Amos Binney

Mesmo como uma composição literária, as Sagradas Escrituras formam o livro mais notável que o mundo já viu. São de todos os escritos os mais antigos, e contêm um registro do mais profundo interesse. A história de sua influência é a história da civilização e do progresso. Quase não podemos fixar os olhos em uma única passagem neste livro maravilhoso que não tenha oferecido instrução e conforto para milhares de pessoas. Somente neste terreno, a Bíblia tem fortes reivindicações para a nossa consideração atenta e reverente.

Cada Testamento aumenta o valor do outro. Como evidência da estreita ligação entre as duas dispensações e da confirmação dada pelo Novo Testamento ao Velho, a primeira tem duzentas e sessenta citações diretas da segunda, das quais cerca de metade dão o sentido em vez do significado exato das palavras. E as alusões são ainda mais numerosas, sendo mais de trezentos e cinquenta.

Os dois Testamentos contêm apenas um esquema de religião. Nenhuma parte pode ser compreendida sem a outra. Tem apenas um assunto desde o começo até o fim; Mas nossa visão se torna mais clara pela revelação progressiva. As verdades de Deus são, em si, incapazes de progresso, mas não a revelação. O progresso não está na verdade, mas na clareza e imponência com que as Escrituras a desdobram.

Pode haver passagens neles cujo significado completo não foi descoberto e que talvez estejam reservadas para extinguir alguma heresia futura, ou alguma dúvida ainda não formada, ou para provar, com o novo cumprimento da profecia, que a Bíblia veio de Deus. A Escritura é como o mar profundo, lindamente claro, mas profundamente insondável. Parece dizer aos seus milhões de estudantes: “Meus tesouros nunca se esgotarão, não me ponham à mesa, mas questionem-me incessantemente”.

Os tesouros mais ricos da Palavra de Deus não serão descobertos a menos que o próprio Espírito Santo se torne o revelador (Sl 119:18; Lc 24:45; Jo 16:13; 1 Co 2: 9-16). A última referência contém, no original, as palavras “que o Espírito Santo ensina, explicando coisas espirituais aos homens espirituais”. É pela sua luz que nos tornamos seguros da verdade da Bíblia ou do verdadeiro significado de passagens particulares (João 7:17; 1 Co 2:13). O Intérprete, em cuja casa o Peregrino de Bunyan viu tantas maravilhas, é o Espírito Santo. Além disso, a Escritura interpreta a própria Escritura. Não há uma passagem obscura, contendo qualquer verdade importante, que não seja explicada em outra parte.

A harmonia e a perfeição das Sagradas Escrituras tornam-se mais peculiarmente evidentes pela constante referência de todos os seus escritores a nosso Senhor Jesus Cristo. Tirem-no dos Oráculos Sagrados e eles se tornam um jargão de vozes ininteligíveis e discordantes (Lc 24:27,44; Jo 1:45; Atos 3:20-24; 10:43; 13:23-37 e 17: 23).

As Sagradas Escrituras, escritas sob a influência daquele a quem todos os corações são conhecidos e todos os eventos conhecidos, são adaptadas para o benefício da humanidade em todos os sentidos e para todo o tempo. (Rm 15:4; 1 Co 10:11; 2 Tm 3:15-17). Elas sempre liderarão o progresso humano. As mais belas produções de sagacidade, depois de serem vistas, como flores colhidas, murcham em nossas mãos e perdem sua fragrância. Mas essas flores eternas da Divina Verdade tornam-se ainda mais bonitas sob nosso olhar, emitindo diariamente odores frescos e produzindo novos doces, que serão apreciados, nos darão vontade de provar novamente, e quem mais provar mais se deleitará (Sl 1:2; 119:11,97; Jó 23:12; Jr 16). A este respeito, as Escrituras assemelham-se ao jardim do Éden, no qual se encontra toda árvore que é agradável à vista ou boa para o alimento espiritual, incluindo a Árvore da Vida, dada para a cura das nações (Pv 3:13-18; Ap 22:2).

Pouco fazem aqueles que negligenciam suas Bíblias; que deleites refinados eles perdem por isso, afastando seus olhos do objeto mais sublime e fascinante de contemplação que o universo inteiro oferece.

Em um museu em Dresden, entre muitas outras gemas e tesouros, pode ser visto um ovo de prata, que, quando você toca, uma mola abre e revela uma gema dourada. Dentro deste é escondido um frango, cuja asa, sendo pressionado, também abrese-se repentinamente, revelando uma esplêndida coroa de ouro cravejado de jóias. Isso não é tudo. Outra mola secreta, escondida no centro, sendo tocada revela um anel de diamante magnífico. Assim é com toda verdade e promessa da palavra de Deus – um tesouro dentro de outro tesouro. Quanto mais examinamos, mais ricos nos tornamos. Mas poucos, comparativamente, têm cuidado de tocar as molas como fez o salmista (Sl 119:96-100).

Fonte: Binney’s Theological Compend Improved by Amos Binney & Daniel Steele (1875). Section I, Chapter 2.
Tradução: Eduardo Vasconcellos

Editora Sal Cultural - Coleção Grandes Temas da Teologia

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