Por Kleber Maia

O avivamento que ocorreu no século XVIII foi um dos mais duradouros e impactantes da história. João Wesley foi um dos homens que se destacaram à frente deste movimento. Ele, juntamente com seu irmão Carlos e com George Whitefield, reuniam-se com outros estudantes para orar, estudar as Escrituras diariamente, jejuar às quartas e sextas-feiras, visitar os doentes e encarcerados e confortar os criminosos na hora da execução. Deus usou-os para realizar um grande avivamento.

O que é um avivamento? É “aquela estranha e soberana obra de Deus na qual Ele visita o seu próprio povo, restaurando-o, reanimando-o e libertando-o para receber a plenitude de suas bênçãos” (SHEDD, 2004, p. 11). O genuíno avivamento apresenta algumas características indispensáveis, que são: a grande fome pela presença de Deus, buscada através da oração, a grande valorização da Bíblia, o arrependimento de pecados, a urgência da santificação, e uma transformação social que decorre da ação da igreja mobilizada pelo Espírito Santo.

Precisamos de um avivamento como aquele, porque infelizmente, nos nossos dias, a oração tem sido relegada a um plano secundário na vida da igreja. As reuniões de oração existem, mas elas são pouco frequentadas. Os momentos de oração existem, mas muitos crentes, após uma árida oração de 10 minutos, não têm mais nada a acrescentar.

A oração era grandemente valorizada por Wesley e seus companheiros. Todas as manhãs e todas as noites cada um passava uma hora orando sozinho em oculto. Nas orações, paravam de vez em quando para observarem se oravam com o devido fervor. Wesley passava duas horas, diariamente, em oração, às vezes mais, e fazia mensalmente vigílias de oração com os crentes.

A oração é uma necessidade e uma obrigação para o povo de Deus. É uma necessidade, pois sem o Senhor nada podemos fazer (Jo 15.5), não temos nada senão o que recebemos do céu (Jo 3.27), e é pela oração que fortalecemos a nossa comunhão com Ele. É uma obrigação, pois a Palavra nos ordena: orem! (1 Ts 5.17). Jesus mostrou-nos a necessidade de oração, pois orava constantemente (Mc 1.35; 6.46; Lc 6.12). Quando a oração deixa de ser vital para o cristão professo, ou quando é possível sentir-se satisfeito sem qualquer sinal de poder espiritual, nem experimentar respostas às orações, é um sinal claro que precisamos de um avivamento.

Precisamos enfatizar as reuniões de oração, pregar sobre a necessidade de oração, criar momentos de oração, reservar salas de oração, realizar amigos secretos de oração, projetos mães de oração, e ensinar o povo a orar (Lc 11.1). Muitos crentes passam pouco tempo em oração porque pensam nela apenas como um momento de apresentar a Deus a lista de pedidos.

O avivamento é uma obra de Deus. Porém, tanto no seu surgimento quanto na manutenção dos seus resultados, é fundamental, também, o genuíno ensino bíblico, pois “a teologia que nega as verdades centrais da Bíblia não tem o poder de transformar vidas, muito menos de provocar um avivamento”. Quando a busca pela verdade bíblica fica estagnada e os cristãos se acomodam, pacificamente, com as verdades adquiridas há muito tempo, ou quando o conhecimento bíblico é tratado como fato externo e falta uma aplicação ao coração e à vida, é um sinal claro de que precisamos de um avivamento.

Wesley valorizava em extremo a Bíblia Sagrada, tendo-a como a maior fonte de conhecimento e autoridade, a única regra de fé e prática para o cristão. Ele se declarava um “homem de um livro só”. Ele lia a Palavra de Deus regularmente e pregou quase todo o cânon bíblico, incluindo extensa pregação do Antigo Testamento. Ele lia as Escrituras porque era o guia para a fé cristã, o guia para o comportamento cristão e esperança e sustento para o crente.

O avivamento cria, também, uma renovada urgência pela evangelização e um amor pelas almas perdidas, pregando a Palavra. O Clube Santo fazia muito mais do que refletir e orar. Eles iam às prisões levar a palavra de salvação aos prisioneiros. Wesley viajou a cavalo e, quando mais velho, de carruagem aberta, pregando o evangelho. Calcula-se que, em 50 anos, ele tenha percorrido 400 mil quilômetros e pregado 40 mil sermões, com uma média de 800 sermões por ano. Wesley deixou um legado de 300 pregadores itinerantes e mil pregadores locais.

Nos dias de Wesley, como hoje, a imoralidade assolava o país e, cada vez mais, passava a fazer parte do cotidiano de muitos “cristãos”. Os integrantes do Clube Santo estavam inseridos num contexto universitário de imoralidade social, porém viviam diferente e faziam a diferença. A prioridade deles era buscar a Deus, viver seus princípios e ensinamentos, entender e aplicar a Sua Palavra e testemunhar com atitudes e palavras o amor, a esperança e o poder transformador de Deus.

A igreja avivada recebe as bênçãos de Deus, mas busca uma vida de santidade. A igreja hoje está correndo mais atrás de bênçãos do que atrás de santidade. A igreja hoje se empolga mais com milagres do que com vida cheia do Espírito. A igreja hoje anseia mais as bênçãos de Deus do que o Deus das bênçãos.

A igreja avivada busca a Deus, mas também se volta para a comunidade ao seu redor. Muitas pessoas, quando começam a buscar avivamento, saem da realidade e se isolam na sua espiritualidade. João Wesley lutou pelas causas sociais na Inglaterra ao mesmo tempo em que pregou sobre avivamento; apoiou a reforma educacional, a reforma das prisões e abolição da escravatura. O avivamento sempre traz profundas mudanças políticas, econômicas, sociais e morais. Alguns historiadores acreditam que o avivamento livrou a Inglaterra de uma revolução sangrenta como a que abalou a França (1789). Um nobre inglês, passando por um povoado em Cornwall, na Inglaterra, depois de procurar em vão um lugar onde comprar bebida alcoólica, perguntou a um camponês: “Como é que eu não posso comprar um copo de bebida nesta triste aldeia?”. O velho, reconhecendo a posição do estrangeiro, tirou respeitosamente o chapéu e curvou-se, dizendo: “Senhor, há cerca de cem anos um homem chamado João Wesley passou por aqui”. O camponês então virou-se e foi embora.

Precisamos urgentemente de um avivamento como aquele que aconteceu no tempo de Wesley e seus companheiros!

Estamos avivados? Vivemos uma época de busca pela santificação? A quantidade de jovens que vivem em fornicação, a taxa de divórcios, a inadimplência deliberada, a sonegação de impostos, a mentira, a falsidade e a corrupção são infimamente menores na igreja do que no mundo, ou são quase a mesma coisa?

A Bíblia Sagrada é lida, memorizada, estudada e praticada nos nossos dias? Os crentes leem a Palavra de Deus, com alegria, todos os dias? Eles abarrotam as igrejas nos dias de estudo das Sagradas Escrituras? Têm grande prazer em aprender dela e, mais ainda, em praticá-la?

As reuniões de oração são as mais disputadas na programação da igreja? O culto matutino é uma reunião de igreja cheia? Os cultos de oração são tão concorridos, que os que não chegarem cedo ficarão sem um lugar para orar?

A nossa sociedade está sendo impactada pela igreja, de forma que, à medida que cresce o número de evangélicos no Brasil, diminui a corrupção, a violência e a imoralidade?

Se a resposta a estas perguntas forem SIM, então estamos vivendo um avivamento!

Se a resposta é NÃO, precisamos buscar um avivamento de Deus para a Sua igreja!

Editora Sal Cultural - Coleção Grandes Temas da Teologia

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3 thoughts on “João Wesley, Nós e o Avivamento”

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