Por Wellington Mariano

Os pentecostais respondem pela maioria dos evangélicos no mundo e tal fato também é verdadeiro para o Brasil. Recordo-me com alegria e satisfação de ter participado do Centenário da Rua Azusa no ano de 2006 em Los Angeles, Califórnia, EUA, mas a questão é que na época o evento foi tratado, como ainda o é hoje, como sendo, de maneira bem geral, o marco inicial do pentecostalismo no mundo. Em razão do Centenário eu tive o prazer de conhecer o Dr. Harold Vinson Synan, autor e historiador do movimento de santidade e pentecostalismo[1] e que tanto tem contribuído para o entendimento acerca da história dos pentecostais.

O pentecostalismo brasileiro carece de estudos acerca de sua origem e doutrinas, e que aqui não se confunda doutrina com usos e costumes. Essa ausência de apresentação acerca da história e doutrinas dos pentecostais traz inúmeros malefícios, sendo que aqui eu gostaria de enfatizar a “dívida” que os pentecostais têm com os wesleyanos, mas que não sabem, e de ter se originado nos “movimentos de santidade” wesleyanos e isso sem contar os empréstimos e desenvolvimentos de muitos termos e terminologias que têm sua origem nos metodistas.

Os wesleyanos também são responsáveis por resgatar e carregar adiante a soteriologia que é comum entre wesleyanos e pentecostais, o arminianismo. Wesley, fundador do metodismo, é talvez o arminiano mais conhecido do mundo, já que Armínio é pouco, se não totalmente desconhecido entre denominações e movimentos que adotam ou que deveriam adotar o sistema soteriológico que leva seu nome. Wesley também é conhecido por abraçar, defender e pregar o arminianismo, chegou até mesmo a dar o nome de seu jornal de “O Arminiano” (The Arminian).

Mas a questão é que a palavra wesleyano abarca bem mais do que metodismo, existem muitos wesleyanos que não são metodistas, como é o caso dos nazarenos, assim chamados em razão de pertencerem a Igreja do Nazareno.

Sob o termo wesleyano estão muitos dos pentecostais, assembleianos, metodistas, nazarenos etc. Todos estes grupos, claro, não são uniformes em todas as suas crenças e naturalmente possuem e defendem doutrinas peculiares a seu grupo, mas se os protestantes, como um todo, possuem muito mais coisas em comum do que diferenças, tal constatação vale ainda mais para esses grupos.

Todo pentecostal, quer saiba ou não, tem uma herança “wesleyana” dentro de si, todo assembleiano, quer saiba ou não, tem uma ancestralidade “wesleyana”, os metodistas e nazarenos são mais conscientes disso e, como tal, defendem e com orgulho levantam a bandeira da santidade, um dos maiores e mais importantes legados do wesleyanismo.

O renascimento e crescente interesse de muitos cristãos por sua história e doutrinas têm levado ao redescobrimento das coisas que nos une, e dentre os inúmeros pontos de convergência entre estes cristãos está a soteriologia arminiana. Pentecostais, assembleianos, metodistas e nazarenos começam cada vez mais participar mais ativamente e colaborativamente da vida e ministério um dos outros. A redescoberta da história e a doutrina agora servem para apontar e demonstrar aquilo que todos já deveriam saber, que temos muito mais em comum do que imaginávamos.

A história e doutrina atuam como os ímãs que estão reunindo irmãos de várias igrejas e denominações e aumentando cada vez mais o círculo familiar de todos. Já éramos irmãos, mas hoje somos irmãos mais próximos. Cresce cada vez o número de palestras, seminários e conferências sobre soteriologia e o que vemos é uma grande participação de cristãos e líderes de diferentes denominações. Eu, pessoalmente, acredito que o futuro natural desse renascimento, algo que certamente virá com o tempo, é a criação de um grupo ou associação em que se concentrem e disseminem estudos, escritos, mensagens e a cosmovisão adotada e defendida por esse grupo que não conhece barreiras geográficas ou denominacionais.

E muito dessa redescoberta e benefícios são resultantes da fidelidade de irmãos, pastores, líderes e historiadores wesleyanos que foram fieis a seu chamado de mudar a história e de preservá-la para que hoje muitos cristãos pudessem (re)descobri-la e com isso descobrir e poder usufruir cada vez mais de comunhão.

Que Deus abençoe os wesleyanos por seu tão lindo e belo trabalho!

[1] SYNAN, Vinson. O século do Espírito Santo: 100 anos de avivamento pentecostal e carismático. São Paulo. Editora Vida. 2009.

Editora Sal Cultural - Coleção Grandes Temas da Teologia

By Editor

One thought on “O legado (des)conhecido do wesleyanismo”
  1. Fico muito feliz em saber que o movimento pentecostal está crescendo ainda mais, e que o interesse em conhecer a história do pentecostalismo tem aquecido os corações e confirmado que o Senhor está neste negócio.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *