Caruaru, 2014 – I Conferência Arminiana – Instituto Teológico Jacob Armínio

Por Eduardo Vasconcellos

A cidade de Maceió sediará nos próximos dias 20 e 21 de março de 2015 mais um evento com foco na Teologia Arminio-Wesleyana no Brasil. Desde fevereiro do ano passado, quando o Instituto Teológico Jacob Armínio promoveu a I Conferência Arminiana, em Caruaru, outros eventos semelhantes tem acontecido em várias cidades do país, como é o caso de Recife e Fortaleza, no Nordeste, e Indaiatuba e Limeira, no interior de São Paulo. Depois de Maceió, João Pessoa e Campina Grande já preparam seus eventos e há rumores que em breve acontecerá um grande Congresso Arminiano em São Paulo.

Na verdade, esse movimento sobrevém do anseio dos remonstrantes[1] contemporâneos por ver a história da teologia contada com veracidade, liberdade e, principalmente, para fazer frente a uma onda de calvinização das igrejas pentecostais brasileiras. Isso tem deixado muitos cristãos verdadeiramente preocupados tendo em vista que as divergências teológicas entre Armínio e Calvino entram no campo da Soteriologia, com implicações diretas na vida e na prática cristãs, podendo implicar na perda da salvação. Arminianos e wesleyanos acreditam que a doutrina da eleição e da predestinação tal como é ensinada pelos calvinistas geram uma falsa segurança no crente e que este, confiado num decreto divino, não precisa nada mais além da fé – uma fé, naturalmente, mais ligada à eleição incondicional do que ao sacrifício de Cristo. Essa não parece ser a idéia de Jesus ao propagar o evangelho e passar a mensagem de que é necessário porfiar para entrar pela porta estreita (Lc 13.24). Ou de que o Reino é conquistado com esforço (Mt 11.12) assim como a justiça dos seus discípulos deve exceder à dos fariseus (Mt 5.20).

Em muitos outros momentos da história do Cristianismo esses debates surgiram como reflexo da mornidão ou da negligência da vida espiritual da igreja. Foi assim com Charles Wesley e a Igreja Anglicana, na Inglaterra. Foi assim também com Charles Finney e a Igreja Presbiteriana, nos EUA. Vale lembrar que esse movimento surge dentro da congregação e é alimentado e conduzido por “leigos” insatisfeitos. Em alguns casos, surgem novas denominações. Um exemplo histórico disso é o surgimento da Igreja do Nazareno, fruto da união de três grandes grupos de Santidade americanos oriundos de denominações tradicionais diferentes.

No Brasil destes dias, essa insatisfação deu origem a vários grupos de discussão nas redes sociais (Arminianismo, Arminianos e Sociedade Cristã Arminiana são alguns deles)  que buscaram na união virtual a força necessária para construir um alicerce teológico capaz de resistir a uma série de ensinamentos conflituosos. Exegetas e hermeneutas foram assim chamados ao trabalho, numa das tarefas que mais satisfaz o teólogo: discutir a Bíblia!

Das discussões virtuais às publicações teológicas

Embora não seja evidente, uma das causas apontadas para o avanço do Calvinismo em território Arminiano é atribuída ao baixo número de livros sobre a teologia arminiana e seus desdobramentos publicados em língua portuguesa. O sentimento de que boa parte da literatura teológica publicada no Brasil é de confissão calvinista, é outra justificativa. Em recente entrevista, o Pr. Geremias do Couto admite essa influência: “com o tempo passei a ter contato com as doutrinas da graça, a ler os mesmos livros citados pelo pastor Silas Daniel (…) até que abraçar a fé reformada tornou-se algo natural, sem que houvesse necessidade de qualquer ruptura ‘explosiva’.”

Nesse sentido, o Pr. Silas Daniel tratou de justificar seu artigo na revista Obreiro de janeiro/2015, onde aborda o panorama histórico da doutrina arminiana, rebate alguns mitos sobre a historiografia de Jacó Armínio e da doutrina que leva seu nome, como reflexo da preocupação pelo aumento da influência do calvinismo no meio assembleiano. Ele explica que “o principal motivo da preocupação com a influência calvinista é a discordância doutrinária mesmo”. Historicamente, pentecostais sempre foram arminianos.

Além de revistas, blogs e fóruns de discussão, há muito trabalho de maior densidade teológica sendo produzido atualmente. É o caso de vários livros arminianos que foram publicados nos últimos meses. O binômio Conferência Teológica / Lançamento Teológico assumiu assim a expressão física daquilo que já pode ser chamado de renascimento da teologia brasileira. Surgiram novas editoras e, em alguns casos, editoras que se identificaram com a teologia arminiana chamaram para si a responsabilidade de publicar esses títulos.

A I Conferência SAL de Teologia Armínio-Wesleyana

Esse é o caso da Editora Sal Cultural. Havendo lançado alguns livros até 2012, desde o segundo semestre de 2014 direcionou seu foco literário para publicações sobre teologia arminio-wesleyana. O resultado dessa guinada poderá ser visto na I Conferência SAL, que acontecerá em Maceió, nos dias 20 e 21 de março.

A programação do evento conta com palestras sobre Expiação ilimitada, Justiça para os pobres e marginalizados, Perfeição cristã, Pelagianismo e os cinco artigos da Remonstrância, entre outros , que serão ministradas por Wellington Mariano, Zwinglio Rodrigues, Juceni Rocha e Eduardo Vasconcellos. Haverá também uma mesa redonda e não para por ai. Os lançamentos teológicos acontecerão e, sem dúvida, os leitores sairão satisfeitos.

[1] Remonstrância foi um movimento organizado pelos seguidores de Armínio após a sua morte, com objetivo de confrontar as interpretações teológicas de João Calvino. Foram apresentados Cinco Artigos apoiados nas idéias de Armínio e como os artigos foram divisórios, aqueles que os apoiaram foram chamados de “Remonstrantes”.

Editora Sal Cultural - Coleção Grandes Temas da Teologia

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