A criação do Homem

John Wesley

Aquele homem [Adão] foi feito por último de todas as criaturas, o que foi tanto uma honra quanto um favor para ele: uma honra, pois a idéia da criação era progredir daquilo que era menos perfeito, para o mais perfeito, e um favor, pois não estava em condições de ser alojado no palácio projetado para ele, até que estivesse completamente montado e mobiliado para sua recepção. O homem, assim que foi feito, tinha toda a criação visível diante dele, tanto para contemplar como para tomar o conforto dela.

A criação do homem foi um mero ato do sinal de sabedoria e poder divinos, acima das outras criaturas. A narrativa é introduzida com solenidade e uma distinção real do restante. Até agora havia sido dito: Haja luz, e haja firmamento; mas agora a palavra de comando se converte em palavra de consulta: Façamos o homem – por quem o restante das criaturas foi feito. O homem deveria ser uma criatura diferente de tudo o que tinha sido feito até agora. Carne e espírito, céu e terra foram colocados juntos nele, para ele estar aliado aos dois mundos. E, portanto, o próprio Deus não apenas se compromete a fazer, mas tem prazer em se expressar, como se ele chamasse um conselho para considerar a realização dele, façamos o homem – as três pessoas da Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, consultam e concordam com ele; porque o homem, quando foi feito, devia ser dedicado e devotado ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

O homem foi feito à imagem de Deus e depois à sua semelhança; duas palavras para expressar a mesma coisa. A imagem de Deus sobre o homem consiste: 1.) Em sua natureza, não em seu corpo, pois Deus não tem um corpo, mas sim a alma. A alma é um espírito, um espírito inteligente e imortal, um espírito ativo, aqui parecido com Deus, o Pai dos espíritos e a alma do mundo. 2.) Em seu lugar e autoridade. Façamos o homem à nossa imagem e deixe-o ter domínio. Como ele tem o governo das criaturas inferiores, ele é como se fosse o representante de Deus na terra. No entanto, o governo de si mesmo pela liberdade de sua vontade, tem mais da imagem de Deus do que seu governo das criaturas. 3.) E, principalmente, em sua pureza e retidão. A imagem de Deus sobre o homem consiste em conhecimento, justiça e verdadeira santidade [Efésios 4:24; Colossenses 3:10]. Ele era reto, [Eclesiastes 7:29]. Havia uma concordância habitual entre todos os seus poderes naturais e toda a vontade de Deus. Sua compreensão via as coisas divinas claramente, e não havia erros em seu conhecimento. Sua vontade obedecia pronta e universalmente à vontade de Deus, sem relutância. Suas afeições eram todas normais, ele não tinha apetites ou paixões desordenadas. Seus pensamentos eram facilmente fixados nos melhores assuntos, e não havia vaidade ou ingenuidade neles. E todos os poderes inferiores estavam sujeitos aos ditames do superior. Portanto, santos e felizes, foram nossos primeiros pais, tendo a imagem de Deus sobre eles. Mas, como caíste tu, ó filho da manhã? Como esta imagem de Deus sobre o homem é desfigurada! Quão pequenos são os restos e quão grandes são as ruínas! Que o Senhor a renove em nossas almas pela sua graça santificante!

O homem foi feito macho e fêmea e abençoado com fertilidade. Ele os criou, macho e fêmea, Adão e Eva. Adão primeiro, da terra, e Eva, do seu costado. Deus fez apenas um macho e uma fêmea, para que todas as nações soubessem que os homens são feitos do mesmo sangue, descendentes, de um estoque comum, e podem, assim, ser induzidos a amar um ao outro. Deus, tornando-os capazes de transmitir a natureza que haviam recebido, disse-lhes: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra. Aqui Deus lhes deu, 1. Uma grande herança; enchendo a terra, em que Deus colocou o homem para ser o servo de sua providência, no governo das criaturas inferiores, e como a inteligência deste mundo; ser igualmente o colecionador de seus louvores nesse mundo inferior e, por fim, ser preparado para um estado melhor. 2. Uma numerosa família duradoura para desfrutar desta herança; pronunciando uma bênção sobre eles, na virtude de que, sua posteridade deve se estender até os cantos mais extremos da terra, e continuar até o maior período de tempo.

Que Deus deu ao homem um domínio sobre as criaturas inferiores, sobre os peixes do mar e sobre as aves do ar – Embora o homem não proveja nenhuma destas criaturas, ele tem poder sobre todas, muito mais do que qualquer ser vivente que se move sobre a terra. Deus planejou, dessa maneira, honrar o homem, para que ele possa encontrar-se mais fortemente obrigado honrar ao seu Criador.

 

Tradução: Eduardo Vasconcellos

Editora Sal Cultural - Coleção Grandes Temas da Teologia

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