Por Scot McKnight
Se eu fosse calvinista, eu não só iria querer ler este livro — iria querer lê-lo com meus amigos calvinistas. Ele é bom demais para se ler sozinho — eu iria querer analisar criticamente o livro, refletindo cada ponto que o Austin Fischer faz. Afinal de contas, ele foi um dos calvinistas ressurgentes. Além disso, ele tem um arsenal de excelentes frases.
Como chamamos esta nova onda de calvinistas? Uma vez eu os chamei de “neorreformados”, mas algumas pessoas (verdadeiramente) reformadas me informaram que esse renascimento do calvinismo não era realmente reformado. “Como”, um deles perguntou, “alguém pode ser reformado e não acreditar no batismo infantil e não fazer uso das clássicas confissões reformadas?”. Então alguém os chamou de “neocalvinistas”, mas um professor amigo meu, especialista nessa área, me disse que esse termo não funciona, pois ele descrevia os neokuyperianos. Então outro estudioso apresentou algumas razões sólidas quando disse que os calvinistas ressurgentes são, na verdade, “neopuritanos”. Então um amigo meu me disse que isso era uma calúnia, uma vez que, em sua concepção, “puritano” era um termo depreciativo. Mas qualquer um que conhecer a história dos EUA — principalmente os fundadores da Massachusetts Bay Company sob os auspícios de John Winthrop — se pergunta como esse grupo ressurgente pode ser chamado de puritano. Eles não têm a força necessária para fazer as coisas que os puritanos fizeram. O que eles fizeram? Tentaram estabelecer uma nação cristã com cidades cristãs, ainda que comprometidos com a aceitação daqueles que eram diferentes deles, algo que o tempo provou ser mais do que um desafio para os puritanos primitivos.
Então, porque chamá-los de calvinistas ressurgentes? Precisamos de um nome ou um rótulo? Sim — penso que sim — pois os homens não podem deixar de categorizar, rotular e definir, e porque o bom raciocínio exige discernimento e o discernimento exige nuança. É por isso que precisamos ver o calvinismo ressurgente como uma espécie de neopuritanismo. A maioria deles é batista ou de igrejas livres, embora alguns deles sejam líderes mais famosos e vários de seus seguidores façam parte de grupos históricos reformados.
Então, de quem estamos falando? Isso é razoavelmente óbvio: John Piper, que sozinho (sobre a generosa plataforma de seu amigo Louie Giglio) tornou o neopuritanismo atraente; Tim Keller, cuja liderança graciosa e livros temáticos cativantes ofereceram uma plataforma completa de teologia pastoral; e D. A. Carson, cujo raciocínio de grande precisão oferece respostas persuasivas na linha de pensamento neopuritana. Acrescente-se ainda o número de batistas do sul, cujo calvinismo foi remoldado sob a liderança de Al Mohler, e temos um poderoso movimento em progresso. Com liderança carismática e pessoas intelectualmente dotadas como essas, não é de se surpreender que o neopuritanismo se encaixe tão bem na cena dos EUA, principalmente porque sua abordagem de livre mercado à religião permite que pastores independentes misturem e combinem sua teologia e visão eclesiástica com linhas de pensamento semelhantes à neopuritana.
Foi isso que atraiu Austin, e isso é o que continuará a atrair evangélicos jovens e teologicamente famintos. Existem outras opções, como a Missio Alliance ou denominações tradicionais, mas a rede The Gospel Coalition e a conferência Together for the Gospel estabeleceram suas vozes como o centro do neopuritanismo, ou, caso prefira, do calvinismo ressurgente.
O calvinismo, talvez precisamos nos lembrar, não é novo. Nem seus problemas são descobertas recentes. Austin Fischer tanto ouviu essas vozes recentes como também aprendeu a examiná-las cuidadosamente… E percebeu que o conjunto de tais vozes deixa muito a desejar. Uma das formas que ele expressou isso foi nestas palavras: “Mas acredito que é melhor dizermos sim à glória de Deus dizendo não ao calvinismo”. As pessoas envolvidas sabem que essas palavras afligem o cerne da visão teológica neopuritana.
Eu passei pela experiência que o Austin passou. Como universitário, eu me apaixonei pela arquitetura do calvinismo. Li um sermão de Spurgeon por dia por meses a fio, li John Owen, tim-tim por tim-tim, e John Brown sobre Hebreus, e bebi do vinho do calvinismo até que me embriaguei no melhor sentido da palavra. Amava o calvinismo — amava suas excelentes linhas de pensamento e penso que o que mais gostava é que o calvinismo tanto me colocava no meu lugar, quanto colocava Deus no seu lugar e eu adorava a idéia de que todas as coisas estavam onde deveriam estar. Até que encontrei passagens na Bíblia que abalaram essa teologia até o âmago.
Estava fascinado por teólogos calvinistas, mas percebi que a exegese não era cativante. Passagem após passagem me convenceram de que, enquanto no contexto geral — a glória de Deus na face de Cristo — era tão boa quanto nossa teologia pode ser, as nuanças mais tênues simplesmente não funcionavam com as estruturas bíblicas da liberdade do amor de Deus e a resposta humana. Por alguns anos eu vaguei entre o calvinismo e outras opções, por fim acabei me estabelecendo com o que às vezes chamo de “anabatismo com sensibilidades anglicanas”. Ainda leio Calvino, Piper e Edwards, mas com uma hermenêutica de suspeita. Gosto da arquitetura do sistema calvinista, mesmo que suas mobílias precisem ser jogadas na pilha do lixo. Gosto da idéia da glória de Deus, mas o amor de Deus é o fim último — não a glória de Deus.
O que mais aprecio na história do Austin é sua honestidade, suas lutas, sua confiança, voz clara, moldada por um profundo tom humilde — ele pensava estar certo, mas aprendeu que a Bíblia conta uma história ainda mais bonita, uma história que ele abraçou. Gosto da forma que ele a coloca: “Fé, dúvida, humildade e confiança — esse é o material e substância da teologia na sua melhor forma. Jactância, presunção e certeza — esse é o material e substância da ideologia no seu pior estado”. Encontros francos com realidades difíceis despertaram uma humildade teológica.
Ninguém, ele aprendeu, pode olhar para Auschwitz de frente e não imaginar como tal ato colossal de maldade bárbara pode se harmonizar com um Deus que determina todas as coisas. Ninguém, ele também aprendeu, pode ver os prospectos do inferno no seu sentido tradicional e não se questionar sobre a bondade de Deus — ou pelo menos perguntar: “Por quê”? E por que Deus criaria tantas pessoas — os números são aterradores — sabendo que a maioria delas (mais uma vez no sentido calvinista tradicional) estará no inferno sofrendo eternamente? Em outras palavras, ele aprendeu que, para sustentar seu calvinismo, precisava acreditar em coisas realmente terríveis. Conforme Austin diz: “E foi isso o que aconteceu comigo no cerne do buraco negro da deidade autoglorificadora: as luzes apagaram e eu fiquei sentado no escuro em um universo absurdo com uma deidade enigmática de poder nu”.
E aquele Deus, ele concluiu, não era o Deus da Bíblia. Este livro conta sua história e eu espero que você o leia, e espero que reúna um grupo de amigos para que possam ler o livro juntos. Fale do livro e faça-se esta pergunta: “Qual é a melhor visão de Deus?” Ou “O Deus calvinista é o Deus da Bíblia?” Ou, melhor ainda: “O Deus calvinista é o Deus que descobrimos quando contemplamos o rosto de Jesus, a encarnação de Deus?” Austin apresenta suas respostas a essas indagações numa época em que muitos precisam começar a respondê-las também.