Por Gabriele Greggersen
Não é fácil apresentar ao público brasileiro o livro de um filósofo cristão e apologista britânico que vive e leciona na Noruega. Isso porque ele está pouco habituado ao debate de ideias e é pouco conhecedor dos apologistas cristãos de destaque no cenário mundial, principalmente no de fala inglesa, e seus opositores, os ateus e agnósticos.
Mas certamente você já deve ter ouvido falar de C. S. Lewis, principalmente das Crônicas de Nárnia, recentemente popularizadas por Hollywood, e do arqui-inimigo das religiões e do teísmo, Richard Dawkins, com seu Deus, um delírio. E não é para menos, pois C.S. Lewis é considerado, ao lado de G.K. Chesterton, um dos maiores apologistas cristãos do Século XX. Se você já leu alguma coisa dele, como os clássicos, Cristianismo Puro e Simples e As Crônicas de Nárnia, ficará particularmente satisfeito em reencontrar muitas de suas obras nesse livro que gira em torno do literato nascido em Belfast, na Irlanda.
O que muitos leitores não sabem é que, além do memorável clube de autores cristãos de ficção, fundado junto com J. R. R. Tolkien, os chamados Inklings, Lewis também fundou outro clube, chamado Clube Socrático. Nele, convidou pessoas célebres e autoridades na polêmica em torno da existência de Deus, defensores de todo tipo de abordagem do assunto, até do ateísmo, para um debate honesto e aberto entre estudantes universitários.
Certamente, se Dawkins e outros tivessem vivido na época de Lewis, teriam sido convidados para contribuir com suas ideias para o clube. E o que será que Lewis teria a dizer diante dos argumentos de Dawkins e do que Peter S. Williams chama de os “novos ateus”? Essa é a pergunta central do livro que está em suas mãos.
E certamente, em meio a tantas citações de inúmeros autores desconhecidos ao leitor brasileiro, você há de reconhecer alguns argumentos com os quais já se viu deparado, que questionam a existência de Deus e a divindade de Cristo. Então, não se deixe distrair pelos nomes e procure ficar focado nos argumentos.
Outros argumentos aqui apresentados lhe serão inteiramente novos e certamente lhe abrirão novos horizontes sobre o debate, quer você seja cristão, quer ateu, quer alguma coisa entre um e outro, que é a postura que muitos brasileiros que acreditam em Deus, mas também em “energias positivas”, “Buda”, “Hare Krishna”, “orixás” e tantas entidades, desde que sejam “do bem”.
Esse livro deixa claro por que não existe coluna do meio: ou se acredita em Deus ou não. E o autor apresentará muitas razões porque ser cristão não é, como quer Dawkins, uma crença cega em algo ilusório. Sim, pasmem, o cristianismo é racional (embora seja contrário ao racionalismo) e é razoável também. Você perceberá ao longo da leitura, que existem pessoas muito inteligentes e conhecedoras da ciência que defendem a perspectiva cristã do mundo.
Então, se você está em cima do muro, experimentará um abalo sísmico que o tirará do equilíbrio; se é ateu, será convidado a ter uma outra perspectiva da coisa toda, sem que seja submetido a qualquer “lavagem cerebral”; e se você já é cristão, principalmente um cristão em meio à academia (professor, pesquisador, estudante), em que esse embate é mais do que acirrado, receberá boas bases para a fé e para não fazer feio em nenhum debate com ateus e agnósticos. Como Pedro mesmo diz, devemos saber dar razão da nossa fé, e este livro é um verdadeiro manual para isso.
Caso você ainda não esteja convencido de continuar a leitura, porque não se trata de nenhum livro devocional que faça propaganda de auto-ajuda para nenhuma vertente específica do Cristianismo, como os livros que você possa estar acostumado a ler, vou ter que decepcioná-lo ainda mais. Pois ele se baseia nas ideias de um pensador, que, segundo Richard Harris, “é lido igualmente por católico-romanos, evangelicais, anglicanos e presbiterianos, metodistas e luteranos. Cristãos de todas as confissões veem nele as doutrinas centrais do cristianismo histórico” (WILLIAMS, 2013, p. 18-19 – tradução própria).
Para outros leitores mais “lidos” em termos de literatura não confessional e devocional e em termos de teologia, ética, cosmologia e antropologia, entre outros, esse ponto é bastante positivo. Por outro lado, não é preciso ser versado nessas áreas para entender a construção lógica do texto.
E mais, apesar de Lewis ter vivido no século passado, suas ideias não estão ultrapassadas. Segundo a especialista em filosofia moral, Mary Midgely, que esteve em Oxford como estudante na mesma época em que Lewis por lá lecionava, e que confessa que o aprecia muito, ele “jamais se encontra superado. É como o vinho, melhora com o tempo… Sempre o considero relevante e útil.” (WILLIAMS, 2013, p. 19 – tradução própria).
Dito isso, desejo-lhe uma boa e instigante leitura!