Por Aaron Hills


Enquanto a Igreja Cristã primitiva frequentou a câmara pentecostal, sua carreira foi de triunfos ininterruptos.  Durante o tempo em que  seus  líderes  foram  santificados  e  os  seus  pregadores  proclamaram  as  suas  mensagens  do  evangelho  com  o  poder  do  Espírito  Santo  enviado  do  céu,  a  marcha  do  seu  progresso  foi  constante  e  irresistível;  nada  poderia  impedir  seu  curso  triunfante. Ainda que os primeiros cristãos fossem ensinados a  esperar uma segunda obra santificadora da graça, através do batismo com o Espírito Santo,  como experiência cristã normal, o seu zelo era inabalável; a vida deles era pura; a coragem deles era perfeita. A cruz e a espada não conseguiam fazê-los parar, as masmorras eram caramanchões de felicidade, e o rugido dos leões famintos no anfiteatro era como um toque de clarim para a glória, a honra e a imortalidade. A Igreja, ao mesmo tempo em que repetia e renovava os seus Pentecostes, estava cheia de uma energia irresistível e movia-se para a conquista contra os poderes das trevas,  “formosa como a lua, brilhante como o sol, terrível como um exército com bandeiras” (Ct 6:10).

Foi somente quando a câmara pentecostal foi abandonada, suas experiências foram desconsideradas e os líderes da Igreja começaram a confiar mais no natural do que no sobrenatural, substituindo o batismo com o Espírito Santo e a plenitude do poder pela oratória, a erudição, o gênio, a pompa pagã e a amizade governamental, que a Igreja caiu.

A história se repete.  Assim como o Pentecostes foi rejeitado naquela época, ele está sendo rejeitado hoje.

Não faz muito tempo, as denominações estavam tão separadas que uma delas poderia possuir uma grande verdade e os líderes e obreiros sinceros da outra nunca ouviriam falar dela. Hoje não é mais assim. As grandes verdades ultrapassam os limites das denominações e se espalham por toda parte. Antigamente, os metodistas estavam quase sozinhos em sua defesa da grande verdade da santidade ou santificação como privilégio de todos os crentes, uma segunda obra da graça após a regeneração, uma purificação do coração realizada pelo batismo com o Espírito Santo. John Wesley declarou que a Igreja Metodista foi criada principalmente para propagar essa grande verdade[1]. E essa verdade ultrapassou os limites da denominação e agora encontra defensores em quase todas as grandes igrejas do país. A lista de escritores e autores das várias igrejas é realmente longa demais para ser apresentada. Por isso, muita luz sobre o assunto da santidade atravessou a escuridão em todos os lugares, alcançando os líderes das denominações e as pessoas mais inteligentes e com mais leitura que muito pouco sabia sobre essa grande verdade da santificação.

Além disso, as bandas de santidade e os acampamentos de santidade estão se tornando tão numerosos que estão à porta de todos. Um bom número de jornais e revistas de santidade bem editados também estão sendo publicados e circulam bem em todos os lugares.  Assim, uma fração considerável do povo cristão, mesmo que não tenha uma visão clara e precisa da bênção pentecostal, pelo menos sabe que a santidade, a santificação, algo tão discutido na Bíblia, também tem muitos defensores, professores e testemunhas entre os homens vivos. Um assunto que Deus coloca tão vigorosamente à frente em Sua Revelação desafia a atenção. Deus tem honrado a pregação da bênção pentecostal, o evangelho da salvação plena, com tais demonstrações de poder, tais demonstrações do Espírito Santo, que todas as pessoas ponderadas têm motivos racionais para acreditar que há algo nesse movimento de santidade além de jorro, hipocrisia e fanatismo.  A doutrina de uma possível libertação do pecado por meio do batismo com o Espírito ganhou atenção respeitosa em vez de rejeição desdenhosa.

Porém, a luz chegou, e sua recepção em muitos lugares e por muitas mentes não foi mais hospitaleira do que a que foi dada Àquele que era a Luz do mundo. O Homem do Calvário “veio para o que era seu, e os seus não o receberam”. Da mesma forma, Seu representante, o Espírito Santo, veio para o que era seu, a Igreja de nossos dias, oferecendo bênção e poder pentecostais; e Ele, por sua vez, está sendo freqüente e amplamente rejeitado. Jesus orou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Mas, no caso de não poucos hoje, eles sabem o que fazem.  Eles estão rejeitando de forma inteligente, intencional, fria, consciente e deliberada o Pentecostes do Espírito Santo.

O poderoso Finney disse certa vez algo parecido com isto:

“Houve um tempo em que os ministros não eram esclarecidos sobre alguns grandes males da época, e Deus os usou, apesar de sua negligência em relação a algumas grandes reformas morais; mas agora a luz veio, e o dever é claro, e Deus não usará muito aqueles que se recusam a andar na luz e cumprir seu dever. Mostre-me, se puder, um ministro que negligencie a reforma da temperança e que seja abençoado com algum avivamento!”

Acredito que, se Finney estivesse conosco hoje e estivesse pregando com a fidelidade e o poder de antigamente, ele diria com o mesmo espírito:

Houve um tempo em que os ministros não sabiam que era seu privilégio receber o batismo com o Espírito no poder santificador; mas agora a luz chegou, e Deus não usará grandemente e abençoará com avivamentos aqueles que se recusam a buscar e andar na luz até alcançar seu Pentecostes. Mostre-me um ministro que tenha conscientemente rejeitado essa bênção a quem Deus está dando muitas almas!

Os tristes sinais dos tempos no céu religioso são inconfundíveis. O Sr. H. K. Carroll, estatístico do governo, diz:

“É evidente, pelas estatísticas, que todas as igrejas estão passando por um período de monotonia incomum. Como um todo, elas estão progredindo, mas muito lentamente. Em termos financeiros, elas estão prosperando com o país, mas os resultados do trabalho religioso são desanimadores.”

Os cristãos sinceros deveriam esconder seus rostos de vergonha, quando uma revista secular competente e amigável, “The World’s Work”, começa um grave artigo como segue neste mês de maio de 1902:

“Muitas vezes ouvimos que o dia da Igreja Cristã está diminuindo rapidamente, e que deixará de existir, salvo como uma relíquia do passado, e que durante os últimos dois ou três anos, em convenções das principais denominações cristãs, questões como ‘desinteresse’ e ‘esvaziamento’ foram discutidas com toda a seriedade e tristeza; repetidamente, de todas as partes do país, e também de outros países, chegam relatos de bancos vazios, uma diminuição de estudantes da Escola Dominical, recursos escassos e uma diminuição do entusiasmo religioso.”

Outra revista publicou um artigo no ano passado com o seguinte título “Os tempos espirituais estão conturbados e atados”, cujo tetxo prosseguia assim:

“assim estão pela tremenda força da religião secularizada e da falsa filosofia. Não é de se admirar que o mundo pelo qual Cristo morreu esteja perecendo; não é de se admirar que seja difícil, talvez nunca tenha sido tão difícil antes, para qualquer pessoa ‘permanecer firme na fé que uma vez foi dada aos santos’. Em vez de proclamar corajosamente, mas com amor e ênfase, aquelas verdades de ‘vida e morte’, ‘Pecado e Salvação’, que são, em última análise, os únicos fatores essenciais e fundamentais na pregação, o púlpito americano, em muitos centros importantes de população e influência, parece estar satisfeito em distribuir para homens e mulheres famintos de alma, como sermões, receitas obsoletas, mas hábeis, de descrença e falta de fé na integridade do Livro Antigo, misturadas com chavões morais e encobertas pelo conservadorismo, que é apenas outro nome para a rendição comprometedora das verdades do evangelho, falsificando a verdade para obter popularidade e remuneração.“

Os bispos da Igreja Episcopal Metodista têm uma visão ampla e abrangente e estão sempre atentos à vida da Igreja. Eles dizem:

“O abismo entre o capital e o trabalho ameaça a Igreja de ambos os lados, tanto do lado dos ricos quanto do lado dos pobres. Foi permitido que o décimo submerso[2] fosse transferido para outras agências, e a Igreja parece ter se excedido em seus negócios. A Igreja tem sofrido em suas fronteiras com as especulações e os caprichos da Ciência Cristã. As poderosas reuniões de acampamento de antigamente praticamente desapareceram, e o lar foi desmoralizado pela literatura leviana e pela mania de diversão. O exame do coração que antes preparava o caminho para a grande obra de avivamento é freqüentemente evitado e taxado de ‘fanatismo de uma época passada’, e os próprios avivamentos são freqüentemente ridicularizados como fenômenos efêmeros de naturezas superficiais. Em algumas seções, a crítica é estendida a tudo o que é sagrado, até que as crianças perdem o respeito pela Igreja, e a Igreja perde sua presença. A alta crítica ataca a própria Bíblia, negando seu caráter sobrenatural e sua autoridade divina. Embora essa alta crítica esteja limitada a alguns centros, sua influência é filtrada por grande parte de nossa literatura, tirando a autoridade do ensino e o poder da pregação. A Bíblia perde sua autoridade divina; o pecado deixa de ser um aguilhão fatal; a lei perde sua sanção; e o governo de Deus é reduzido a algumas regras relativas à estética. Esses estão entre os principais sintomas que indicam a fome que enerva a nossa Sião. Estamos recuando, quando deveríamos avançar em velocidade dobrada para acompanhar os eventos acelerados de nosso tempo. Temos uma doença terrível – a fome espiritual – a falta do testemunho do Espírito, a falta de experiência pessoal, a falta de poder espiritual; e os sintomas são muitos e variados, mas a doença é uma só…  As forças morais e espirituais, necessárias para a formação de um caráter grandioso e semelhante ao de Cristo, foram desviadas pelas forças dominantes do mundanismo e do egoísmo”. (The Pentecost Century, setembro de 1901)

Em minha leitura, deparei-me com as seguintes declarações, que, presumo, estejam corretas e que, infelizmente, corroboram o testemunho dos bispos. Em 1897, na Igreja Metodista Episcopal do Sul, havia apenas um convertido para noventa e quatro membros; na Igreja Metodista Episcopal do Norte, apenas um para cento e trinta e um. Em 1898, li (espero que seja um engano) que as Igrejas Metodistas Episcopais, Norte e Sul, com um total de quatro milhões de membros, sofreram uma perda total de oito mil membros; e que, em 1899, a Igreja Metodista Episcopal, Norte, perdeu vinte e um mil, novecentos e quatro membros. Outra autoridade diz que houve uma perda real de quase quatro mil membros. Isso parece incrível e não se encaixa perfeitamente em outros números que ainda serão apresentados. Mas todas as declarações são tristes e alarmantes. Por exemplo, um jornal da semana passada (22 de maio de 1902) nos informa que os onze mil pregadores da Igreja Metodista Episcopal do Sul, nos últimos quatro anos, não tiveram uma média anual de um convertido cada.

Quase faz o coração parar de bater ao pensar que esses ministros, que são os descendentes espirituais de Wesley, Coke, Asbury, McKendree e outros pais do Metodismo que varreram a terra como ciclones do poder do Espírito Santo, estão agora reduzidos a essa terrível esterilidade.

Mas os metodistas não estão sozinhos nesse problema. O Dr. Burrows, da Igreja Batista Regular, do Sul, diz: “O ano de 1899 não foi marcado por nenhum grande aumento no número de membros das igrejas”. O Dr. Dunning, falando pela Igreja Congregacional, diz: “A denominação está fazendo pouco progresso, temporariamente, e até mesmo em alguns aspectos está retrocedendo. Essa denominação caiu de um ganho de dezenove mil em 1895 para menos de dois mil em 1900. Nunca em sua história houve uma queda tão grande como a que ocorreu desde 1894.”

O Dr. Beard, em um discurso há um ano, disse o seguinte sobre o Congregational Year-Book de 1900: “Não há uma página alegre nele. Nele ficamos sabendo que, por meio dos esforços de 630.000 membros, com um gasto em dinheiro de US$ 7.000.000 para despesas domésticas, durante os doze meses tivemos um acréscimo líquido de apenas 1.640 membros. Em Massachusetts, com um quadro social de 113.000 membros e um desembolso de US$ 1.630.000 para despesas domésticas, houve uma perda real de 588 membros naquele ano. No Conselho Nacional, realizado recentemente em Portland, no estado de Maryland, foi relatada uma perda líquida para o período trienal de 32.103 membros nas Sociedades de Empreendimento Cristão”.

O Dr. Roberts diz: “O progresso da Igreja Presbiteriana não está tão rápido como nos anos anteriores. A verdadeira razão parece ser a falta de vigor espiritual em todas as denominações cristãs”.

Todas as denominações, tanto as que são consideradas liberais quanto as que são rigidamente ortodoxas, exceto aquelas que são reforçadas pela imigração, mostram um declínio constante e alarmante na taxa de crescimento, como veremos a seguir.

Pense nesses vinte e um ramos da Igreja Cristã, que compreendem a maior parte e o poder do protestantismo dos Estados Unidos, tendo sua membresia diminuída de 905.000 membros, em 1895, para 237.000 membros em 1900! O que poderia ser mais humilhante ou mais triste? É o suficiente para causar luto na terra e no céu, e despertar um jubileu no inferno!

E o mais triste de tudo isso é que se trata de uma esterilidade desnecessária! Os corações humanos são exatamente o que sempre foram, afastados de Deus e cheios de carnalidade e pecado, nem melhores nem piores do que os corações humanos de outras épocas. O Evangelho de Cristo não está fora da lei, nem é antiquado, nem obsoleto. Ele ainda é o poder de Deus e é mais afiado do que qualquer espada de dois gumes, e pode lacerar até a convicção mais íntima da alma do pecador. A abençoada “Terceira Pessoa da Trindade”, o sempre adorável Espírito Santo, não está morta. Ele ainda pode purificar o coração do crente na Câmara Pentecostal, e dotar com um poder sobrenatural o embaixador de Cristo, e fazer com que sua mensagem seja rápida e poderosa para quebrar o coração duro do inimigo de Deus. Os recursos da oração não estão esgotados, e o céu está tão acessível quanto Deus ainda espera para ouvir e responder às súplicas de Seu povo. Ele ainda anseia por ouvir uma súplica unida de dez dias de Seu povo para que Ele possa abrir as janelas do céu e derramar outro Pentecostes. Nenhuma Igreja precisa pendurar suas harpas nos salgueiros e lamentar as desolações de Sião, pois Deus ainda pode fazer com que Sua Palavra cumpra o que Lhe agrada, e enviar a chuva temporã e serôdia, e fazer com que o deserto floresça como um campo fértil e se torne o Jardim do Senhor. Nenhum ministro precisa ficar sem feixes no grande campo de colheita do Senhor, pois a promessa ainda é válida: “Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos” (Sl 126:6). “A seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos” (Gl 6:9).

As pessoas estão fluindo como uma maré do Niágara através dos portões do pecado e da morte para um inferno terrível. Deus colocou Seu coração em direcionar essa corrente de vida para o Céu.

Qualquer filho de Deus que cumpra fielmente os desejos, planos e condições de sucesso de Deus se tornará um ganhador de almas. Declaro solenemente novamente, para honra do antigo Evangelho e glória do Espírito Santo, que toda essa esterilidade é totalmente desnecessária.

Os jovens que estudam teologia sob minha orientação são ensinados a ganhar almas e a medir seu sucesso pela conquista de almas. Eles também são ensinados a buscar o revestimento de poder como a condição mais essencial para o sucesso no ministério. Eles são treinados em fazer sermões com esse objetivo em vista. Eles são ensinados a esperar o sucesso; e eles têm isso. Vários alunos que estudaram comigo há um e dois anos, durante os últimos doze meses, conduziram mais de cem almas cada um a Deus. Um dos meus alunos do último ano teve mil salvos ou santificados desde que deixou a escola. Um dos alunos deste ano teve que nos deixar há dois meses por causa da escassez de fundos, e desde então ele viu cento e quinze pessoas subirem ao altar e se curvarem a Deus em suas reuniões. Nenhum desses alunos sobre os quais escrevi teve educação suficiente para ingressar em nossa turma de calouros na faculdade; no entanto, eles têm sucesso em conquistar homens que nove décimos dos Doutores em Divindade nobremente educados poderiam cobiçar. Um de nossos estudantes viu mais pessoas convertidas durante suas três férias de verão do que muitos ministros durante toda a vida. Enquanto escrevo estas linhas, estamos na semana de encerramento do terceiro ano da Texas Holiness University[3]. Desde o início do nosso último ano letivo, em 24 de setembro de 1901, duzentas e noventa e quatro pessoas se ajoelharam diante do nosso altar e oraram a Deus; e desde que o colégio abriu as suas portas, há menos de três anos, quatrocentas e sessenta e cinco almas encontraram Deus nos nossos serviços universitários. Diante de tais fatos, e de muitos outros semelhantes que eu poderia citar, será demais dizer que a esterilidade por parte do ministério e das igrejas é totalmente desnecessária?

A verdade é que os professores de teologia e aqueles que são responsáveis pelo treinamento do ministério, bem como os homens que ocupam os altos cargos do poder eclesiástico em nossas denominações, estão, quase sem exceção, engrandecendo o natural e ignorando o sobrenatural. Eles estão dando muita importância ao talento, à educação e à oratória e, em igual medida, estão desconsiderando a importância do batismo com o Espírito Santo.

Sei que estou sujeito a críticas com essas observações. Certa vez, um crítico analisou meu livro “Holiness and Power” (Santidade e Poder) e disse que, no último capítulo, eu havia levantado um conflito infeliz entre o enchimento do Espírito e a educação, criando um preconceito contra esta última. Foi uma crítica desnecessária e totalmente injusta. Durante toda a minha vida considerei isso uma injustiça. Estou empenhado em dar aos jovens toda a educação que eu possa induzi-los a adquirir. Insisto em uma educação clássica para os jovens que se preparam para o ministério. Eu mesmo passei sete anos atrás dos muros de faculdades e universidades e sou um verdadeiro amigo e um defensor sincero do ensino superior. Não serei mal interpretado nesse ponto. Mas, após trinta anos de experiência e observação, declaro francamente que, se eu tivesse de escolher entre tudo o que a melhor universidade pode oferecer sem o batismo com o Espírito e uma educação durante o primeiro ano de uma faculdade comum com o batismo com o Espírito, eu escolheria sem hesitação a última opção. O enchimento do Espírito e a investidura de poder do alto valerão infinitamente mais para o sucesso ministerial do que os últimos seis anos de treinamento na faculdade. Se nossos professores de teologia e os homens à frente de nossos empreendimentos denominacionais aprendessem isso e o exemplificassem, as igrejas seriam salvas da desgraça da perene esterilidade.

Joseph Parker, o grande pregador de Londres, diz muito bem:

“A cultura não pode tomar o lugar da espiritualidade. Eu gostaria de alegrar a casa do Senhor com todas as expressões de amor; mas, feito isso, eu escreveria nas ombreiras das portas, no telhado e em cada painel as palavras de Jesus: ‘Neste lugar há Alguém maior do que o templo’. Prefiro o conhecimento à ignorância, mas prefiro a santidade a qualquer uma delas. A cultura, quando não é tagarela e exigente, pode ser nobre e até majestosa; mas nada é tão frio quanto à cultura, e nada é tão mesquinho, quando não está inflamado e apaixonado pelo Espírito de Cristo. Hoje em dia, o púlpito corre o risco de ser morto por uma cultura mal abraçada. Os homens acham que, por terem freqüentado a faculdade por cinco anos, devem ser pregadores, o que é tão lógico quanto dizer que um homem que dirigiu um ônibus por cinco anos deve ser capaz de atravessar o Atlântico em um navio. O Senhor continuamente despedaça esses vasos de cultura como um vaso de oleiro, tornando-os Seus pregadores, mas vestindo-os com um poder misterioso, mas muito benéfico”.

Os maiores pregadores ganhadores de almas do século que acabou de ser encerrado não foram criados na faculdade; contudo, diante deste fato, tão surpreendente e tão impressionante, nossas escolas teológicas continuam produzindo delicados e auto-suficientes “POTES DE CULTURA”, e chamando-os de pregadores! Se esta horrível farsa se prolongar por muito mais tempo, as conversões cessarão quase totalmente e a honra da Igreja – a Noiva de Cristo – cairá na poeira da humilhante derrota diante dos seus inimigos.

É bom que assim seja – uma bênção positiva. O Espírito Santo se ressente de ser trocado pela cultura; e Ele se retira, dizendo com esse ato: “Vocês parecem pensar que os meios e agências naturais são suficientes – cultura, oratória e maquinaria eclesiástica. Vou deixá-los sozinhos até que reconheçam sua insuficiência e se lembrem novamente de seu Deus esquecido.”

Alegro-me com a preocupação dos líderes denominacionais. É realmente um sinal saudável que eles estejam preocupados com as desolações de Sião. Mas eles procurarão primeiro em todos os outros lugares uma explicação para sua pequena expressão; então, é de se esperar sinceramente, que eles pensem no abandono do Pentecostes, na santificação desprezada e em um Espírito Santo entristecido!

Agora mesmo é suficiente fazer o diabo rir, e os santos e os anjos ouvirem e olharem com admiração e espanto, enquanto esses decepcionados líderes da Igreja se voltam para as Escolas Dominicais e as Associações Cristãs de Moços e Moças, e as Ligas Epworth, e os Clubes de Jovens, Sociedades Auxiliares de Mulheres, Sociedades de Ajuda Feminina, e Brigadas de Meninos, além de belas Igrejas, excelentes coros, pregadores brilhantes, para ajudá-los a sair de seus problemas e curar sua esterilidade. Maquinário, maquinário! “Uma multiplicação da maquinaria humana; uma diminuição do poder de Deus!” E Deus nos levará por uma fome espiritual para honrar o Espírito Santo. Amém! Que venha a fome necessária, até que os homens honrem a Deus. Então as janelas do céu se abrirão, os Pentecostes serão multiplicados e Deus derramará uma bênção até que não haja espaço suficiente para recebê-la.

Não sou o único a dar grande importância ao batismo pentecostal como a preparação mais importante para o ministério. O Presidente Finney foi provavelmente o maior ganhador de almas de todos os séculos cristãos. Mas ele foi humilde e honesto o suficiente para escrever: “A menos que o Espírito se estabeleça e torne eficaz a verdade de Deus, toda eloqüência humana será em vão; e é um fato digno de toda atenção e consideração que, com muito pouca cultura humana, este revestimento de poder tornará o cristão sábio e eficiente em trazer almas a Cristo.” Não citarei mais Finney. Em meu livro, “A Vida de Charles G. Finney”, dedico um capítulo inteiro aos seus sábios conselhos ao ministério. É a instrução homilética mais sólida que já encontrei. Ele sustentava que o batismo com o Espírito Santo era “TUDO no sentido de ser totalmente indispensável para o sucesso”.

Na mesma linha, o Rev. F. B. Meyer, de Londres, escreve o seguinte sobre “A Relação do Batismo com o Espírito Santo com os Pregadores e a Pregação:”

“Quão absurdo é enviarmos jovens para a faculdade para equipá-los com um depósito intelectual de aprendizado clássico e filosófico, e enviá-los para ensinar, sem insistir que se Cristo esperou para ser ungido antes de ir pregar, nenhum jovem deveria pregar até que ele, também, tenha sido ungido com o Espírito Santo! Nunca esqueça que o ministério de nosso Senhor não estava no poder da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, mas no poder da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.”

Como disse São Pedro: “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo” (At 10:38). A Igreja foi concebida pelo Espírito Santo; mas a Igreja, antes de tentar o seu ministério, também deve ser ungida pelo Espírito Santo.

O Pentecostes é diferente da regeneração. Na regeneração o Espírito Santo é descrito como se estivesse DENTRO, mas no Pentecostes e, sempre depois. o Espírito Santo é descrito como se ficasse SOBRE (e enchendo-os e santificando-os). Ele unge, Ele cai sobre, Ele capacita, e peço que, antes que esta leitura termine, todos que lerem isto e que foram regenerados pelo Espírito Santo, sejam ungidos, cheios e capacitados com o Espírito Santo. Isso faria a MAIOR DIFERENÇA POSSÍVEL EM SUA VIDA. Ai é onde você tem falhado, meu irmão. Você tem pregado a CRUZ, mas não tem pregado a CRUZ na demonstração e no poder do Espírito Santo (1 Pedro 1:12).

Tomara que vocês, meus irmãos ministros, que têm trabalhado com o poder do intelecto, da energia, do zelo entusiástico, mas com poucos resultados, possam tornar-se ligados ao poder de Deus, o Espírito Santo armazenado em Cristo; pois assim que você estiver ligado a ele, o poder de Deus através de você repetirá as maravilhas do Pentecostes. Ai você me pergunta: “Senhor, diga-me como posso obter esse poder sozinho”? E eu respondo: “Pelo que eu sei, existem cinco condições”.

1) Você não pode ter o poder do Espírito Santo sem possuir o próprio Espírito Santo. Isto é, o Espírito Santo deve vir a você como uma Pessoa antes que você possa desfrutar de Seus atributos. Em outras palavras, VOCÊ DEVE SER UM HOMEM SANTO antes que você possa exercer o poder do Espírito Santo. Há muitos homens que pensam que se pudessem obter o poder do Espírito Santo, seriam capazes de encher suas igrejas e vender seus livros, e obter renome e fama. Eles querem isso (poder), mas não O querem (e Sua Santidade). Você não pode tê-lo sem possuí-Lo antes [E você não pode tê-Lo, sem ter a santificação que ele traz consigo.] Se você quiser o poder do Espírito Santo, abra seu coração hoje e seja cheio do Espírito Santo, e então você terá Seu poder.

2) Você deve ser limpo. Eu quero falar com sabedoria! Não quero ofendê-lo ou denunciá-lo desnecessariamente. Mas sinto em meu coração que se o Espírito Santo vai trabalhar através de alguém, Ele deve ter um navio limpo.

3) Você deve viver para a glória de Cristo como fim supremo. Jesus Cristo veio ao mundo para glorificar o Pai, e o Espírito Santo veio ao mundo para glorificar o Filho. Se, portanto, você deseja que o Espírito Santo opere com você, você deve concordar com o Espírito Santo em glorificar a Jesus.

4) Sua pregação e ensino devem estar em harmonia com a Palavra de Deus. Lembre-se de que o Espírito Santo é como uma locomotiva; a Palavra de Deus como os trilhos de aço; e você deve ter os trilhos de aço da Bíblia, bem como o poder a vapor do Espírito Santo. Deixe o Espírito Santo encher você, mas Ele trabalhará de acordo com as linhas desse livro.

5) O Espírito Santo deve ser recebido pela fé. Pela fé você é regenerado; pela fé você é justificado; Pela fé você é santificado. Pela fé você recebe o Espírito Santo. “Para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito” [Gl 3:14]. Eu não ficaria sem esse texto para nada, pois é o machado de batalha.

Esta é a mesma bênção pentecostal sobre a qual estamos escrevendo. O Espírito Santo não ousaria encher e capacitar um homem impuro, profano e carnal, porque ele certamente abusaria do poder, usando-o de maneira carnal, egoísta e perversa. Ele certamente usaria isso para promover sua própria fama e glória, em vez da glória de Cristo. Esta é sem dúvida a razão pela qual centenas de ministros oram pelo batismo do Espírito Santo para obter poder, para cada um que o recebe. Eles rejeitam a santificação; eles não terão santidade, e Deus não pode emprestar o poder do Seu Espírito Santo a um homem carnal e profano.

Esta é a explicação para o fato que pregadores com formação universitária, que sinceramente anseiam por maior utilidade e carregam o coração pesado por sua falta de sucesso, pregam meses, e muitas vezes anos, sem alcançar um único convertido, ou talvez apenas alguns poucos. O Espírito Santo não está com eles no poder pentecostal, conduzindo a mensagem aos corações das pessoas até que ela os perfure como uma flecha farpada e cumpra a sua obra. Esse pregador é como um ganhador de almas que recebe mas retém esta experiência pentecostal, esta iluminação celestial, esta unção divina, esta limpeza e capacitação do Espírito Santo.

Não importa onde uma igreja está localizada, entre que tipo de pessoas, instruídas ou ignorantes, altas ou baixas, ricas ou pobres, nativas ou estrangeiras. Se o pregador e os membros leigos são cheios do Espírito e ungidos, o seu empreendimento está unido ao dínamo dos céus; seu poder é adequado a cada necessidade e emergência. O Deus Todo-Poderoso, com todos os recursos do céu, está por trás de seus esforços, e ELES TERÃO SUCESSO. Basta tocar no botão com o dedo da fé e acontecerá algo que surpreenderá três mundos.

Como a câmara Pentecostal deve ser valorizada e a bênção Pentecostal deve ser orada e almejada Sua importância transcendente não pode ser superestimada. A vinda do Espírito em poder sobre nossos pregadores e nossas igrejas é a necessidade do momento. Seria como uma brisa carregada de especiarias visitando a estrutura do doente, ou como um vento forte para marinheiros sem esperança, enchendo suas velas ociosas e acelerando-os para os portos desejados.  Isso criaria novamente o espírito de benevolência pentecostal, há muito perdido, para encher os cofres de nossas empobrecidas Juntas Missionárias, e enviaria uma multidão de missionários para semear em todas as águas. Isso traria uma abençoada agitação de vida divina para as piscinas estagnadas de nossos seminários teológicos altamente dotados. Os professores cheios do Espírito Santo falariam menos aos estudantes de teologia sobre a evolução e seus ancestrais macacos, e lhes mostrariam mais sobre como fazer uma revolução moral nas comunidades em que vivem e como induzir pecadores perdidos a se tornarem filhos e filhas de Deus. Eles ensinariam aos jovens pregadores menos sobre o racionalismo alemão e mais sobre o batismo com o Espírito Santo. Eles lhes mostrariam como criticar menos a Bíblia e como lê-la com uma visão ungida e ver nela as coisas profundas de Deus.

A casta de pregadores doentios, sentimentais, bajuladores, que reduzem a verdade, diluem o evangelho, enfeitam as salas de estar, são estúpidos e adoram as mulheres, seria extinta. Os ensaios efusivos e perfumados, cheios de rosas e poses de retórica, não encontrariam mais seu caminho em nossos púlpitos.  Não ouviríamos mais falar de sermonetes e cristianetes a caminho de um paraíso. Os baluartes, filhos dos antigos e heróicos profetas, ocupariam os púlpitos; homens e mulheres maduros, em vez de bebês carnais, ocupariam os bancos agora vazios.  Seus filhos, que reverenciam o santuário e respeitam a religião, estariam com eles. O antigo evangelho paulino da justiça e da salvação plena seria pregado em sua gloriosa plenitude e seria como fogo e martelo para despedaçar o coração de pedra. Ele exigiria o respeito de homens atenciosos. A Igreja, a Noiva de Cristo vestida de branco, “se levantaria e resplandeceria, vindo a sua luz, e tendo nascido sobre ela a glória de Deus”. Seu passo adiante seria o passo da vitória: ela seria tão terrível para as hostes do inferno “como um exército com estandartes”.

Quem que ama o Senhor não anseia por ver Sião assim, vestida de poder e glória? Que capítulo revigorante da história ela faria após os últimos anais de derrota humilhante!  Que todos nós nos afastemos, de uma só vez abandonemos a confiança nos congressos, festivais, teatros, aprendizado humano, oratória, belas igrejas e corais caros, organizações e maquinário, meios e métodos carnais, e busquemos o batismo com o Espírito Santo e Sua habitação contínua em todo o nosso coração. O Pentecostes universalmente acolhido denotaria a Igreja salva e o mundo evangelizado.

Tradução: Eduardo Vasconcellos


[1] [Nota do Tradutor] “A Inteira Santificação é o grande depósito que Deus entregou ao povo chamado metodista; e para propagar isso principalmente, Deus parece ter nos criado”. Carta a Robert Carr Brackenbury, 15 de setembro de 1790.

[2] [Nota do Tradutor] A suposta fração da população que vive permanentemente na pobreza, implicitamente contrastada com a superior; o termo foi usado pelo Salvacionista William Booth (1829–1912) em In Darkest England (1890).

[3] [Nota do Tradutor] Texas Holiness University, também conhecida como Universidade de Santidade, foi criada em Peniel, Texas, em 1899, patrocinada pela Associação de Santidade do Texas, em Greenville. A escola, então presidida por Aaron Hills,  se tornou uma das três primeiras instituições educacionais nazarenas “oficiais”, em 1908, como a missão de treinar os alunos a ensinar as crenças da fé pentecostal. Bom caráter moral, abstinência do uso de tabaco e bebidas alcoólicas, e uma carta de recomendação, no entanto, eram exigidos de todos os participantes. A Texas Holiness University ofereceu bacharelado em artes, literatura, ciência comercial, divindade, oratória, filosofia, música e ciência. Embora as reuniões religiosas muitas vezes superassem os cursos, os graduados eram obrigados a passar por cursos de Bíblia, Inglês, matemática, história, teologia, filosofia e grego ou latim, e a proferir uma oração no início. Durante sua existência, a instituição atraiu estudantes de todos os Estados Unidos e de outros países também. Foi a única instituição desse tipo no Sul e foi considerada uma das melhores escolas nazarenas do país. Com a dissolução da Associação, em 1910, em virtude de muitos dos seus membros terem se unido à Igreja do Nazareno, em 1911 o escritório nacional da Igreja Pentecostal do Nazareno adotou a instituição, e seu nome foi mudado para Universidade Peniel. Em 1917 seu nome foi novamente mudado, desta vez para Peniel College.

Editora Sal Cultural - Coleção Grandes Temas da Teologia

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