Por Ramon Santos da Costa
Para muitos, em tempos de distanciamentos pós dogmáticos, falar de temas como a Santificação, a Perfeição Cristã pode parecer estar fora do ritmo da vida e do contexto cristão, especificamente o latino americano e brasileiro. Mas, é pertinente e necessário no Brasil um livro como estes, pela óbvia razão de que na tradição armínio-wesleyana é praticamente inexistente na presente era textos para os novos estudantes de teologia, ou para o público cristão em geral.
Mas, o que pode representar esta tradição armíno-wesleyana?
Os representantes eclesiásticos da tradição armínio-wesleyana são poucos, em relação ao imenso universo cristão brasileiro. Se recortarmos apenas os protestantes históricos, veremos que estes por sua vasta produção bibliográfica e mesmo os sermões escritos de seus pastores vem reproduzindo a teologia sob o ângulo calvinista há mais de um século.
Os Pentecostais históricos detiveram-se em seus dogmas a partir de suas grandes experiências carismáticas que também remontam há um século. E, por fim os Neo Pentecostais, nome genérico para a grande maioria da Igreja Evangélica brasileira atualmente, que parece terem abolido e excluído aos seus seguidores quaisquer demonstrações de reflexão á luz das Escrituras e da Teologia ao tema da Perfeição Cristã ou vida santa.
Portanto, a carência de um contraponto teológico para os dias atuais, segundo uma doutrina que começa com os apóstolos cristãos, passa pelos Pais da Igreja e percorre séculos por dentro da Igreja até a Modernidade, ou os tempos dos Wesleys e dos avivados do século XIX é extremamente grande.
Vivemos neste universo teológico bidimensional (se os Neo Pentecostais puseram as Doutrinas Cristãs de lado, ficamos apenas com dois grandes seguimentos doutrinários e suas reinterpretações (ou não) para a formação dos cristãos protestantes e evangélicos brasileiros).
Certamente, a intenção do autor não é meramente esta, pois estamos falando de um específico contexto brasileiro, e ele é Prof. em um Seminário Teológico em Kansas City, EUA. Porém, ao se propor desde o início de sua carreira acadêmica teológica em se dedicar á Doutrina da Perfeição Cristã, por observa-la tão presente nas Escrituras, na Tradição da Igreja ou na História Eclesiástica, seu atual trabalho vem a contribuir e muito para a expansão da cosmovisão teológica dos cristãos.
Talvez sejamos tentados a dizer que a obra chega tardiamente, depois deste último centenário e do vazio e do descaso teológico-doutrinário que vivemos atualmente. Mas, é por isso mesmo que a obra é relevante e chega no momento certo. Como ele mesmo diz, é preciso usar a “espiral hermenêutica” para que se paute outra vez a temática da Perfeição Cristã nestes novos tempos, de novas perspectivas filosóficas e de concepções do sagrado.
Para trazer sua própria contribuição nessa espiral hermenêutica, ele recorre como linha mestra aos axiomas Wesleyanos: a Santa Escritura, a Tradição, a Experiência Espiritual Racional e a Forma Cristocêntrica Trinitária da Teologia Cristã.
Assim, esta obra vem suprir no Brasil á grande necessidade de entendimento desta Doutrina da Perfeição Cristã e sua aplicação prática para a vida. Neste aspecto, a obra interessa aos cristãos brasileiros e por extensão á Igreja Cristã brasileira, pela catolicidade de sua linha mestra e não apenas de um tema teológico, Saudamos a chegada da obra ao Brasil e esperamos que sirva ao anseio de que seja apresentado aos cristãos nesta imensa nação, um horizonte teológico mais amplo do que apresentado neste cenário deste início de século XXI.
Saudamos a chegada de Trindade Santa: Povo Santo ao Brasil com um bem
* Apresentação do livro: Trindade Santa, Povo Santo: A Teologia da Perfeição Cristã. Tradução: Izilda Peixoto Bella. Maceió: Editoral Sal Cultural, 2015.