Por Simei Monteiro

Charles Wesley nasceu em 18 de dezembro de 1707, em Epworth, Lincolnshire, Inglaterra. Foi o décimo oitavo e último filho de Samuel e Susanna Wesley. Estudou no Christ Church, da Universidade de Oxford, seguindo os passos de seu irmão John. Em Oxford, ele e seu irmão John, fundaram, em 1729, o Clube Santo com a finalidade de cultuar a Deus e também prestar assistência a doentes e prisioneiros. Eles logo receberam o apelido de metodistas. John se tornou, mais tarde, o líder do pequeno grupo mas CW foi quem iniciou o clube e, por essa razão, é chamado de ‘o primeiro metodista’.

Charles foi ordenado diácono da Igreja da Inglaterra e também presbítero. Logo depois viajou, com seu irmão John, para a Geórgia, EUA, como missionário. Durante a viagem conhecem os irmãos morávios e ficam impressionados com a sua fé e piedade. Na Geórgia, eles não se adaptaram bem e Charles logo se frustra e deixa a Geórgia, retornando à Inglaterra.

Em maio de 1738, os irmãos Wesley estavam em Londres. No dia de Pentecostes, em 21 de maio de 1738, Charles tem a sua experiência de segurança da salvação, buscada tão ardentemente. Ele envolveu-se, tanto quanto seu irmão John, na propagação do  movimento metodista. John foi um dos organizadores do metodismo mas Charles foi quem desenvolveu a teologia prática através de seus hinos.

Durante uma visita ao País de Gales, Charles Wesley se encontra com Sarah (‘Sally’) Gwynne. Casam-se em 8 de abril de 1749, em cerimônia presidida por seu irmão João Wesley. Charles e Sarah tiveram oito filhos, porém somente três sobreviveram: Samuel, Charles e Sarah. Dos seus três filhos sobreviventes, dois foram músicos muito talentosos. Algumas das melodias compostas por Samuel Wesley estão nos hinários e coleções de música sacra ao redor do mundo.

Apesar de sua importância no movimento metodista Charles Wesley não é muito conhecido no Brasil. Existem algumas razões para isso: Primeiro, a grande figura de John Wesley levou os historiadores a concentrar-se nele e negligenciar o irmão Charles Wesley. John é visto como o fundador e a força motriz por detrás do Metodismo. Seu irmão Charles foi simplesmente considerado seu “assistente”. Charles é mais conhecido como autor de hinos e poemas sacros. Sua obra poética, incluindo ao que ainda não foi publicado, é de cerca de 9.000 textos. Contudo, durante toda a vida os dois irmãos desfrutaram de uma parceria natural com base na afeição mútua, na lealdade e objetivos comuns.

A discrepância entre o que foi escrito sobre John e o que sabemos de Charles se reflete na quantidade de material disponível para estudo.  Os escritos de João resultam em milhões de mensagens e suas cartas, sermões, estudos e diários fornecem um enorme conteúdo tanto para o estudioso quanto para o leitor em geral.  Edições compactas de seu diário, sermões e os Comentários sobre o Novo Testamento são facilmente acessíveis em brochura em edições populares. Por outro lado, só recentemente é que os sermões de Charles foram publicados numa coletânea. Não nos surpreende, portanto, que Charles tenha recebido pouca atenção em comparação com John.

O diário, que inicialmente Charles escreveu em folhas soltas de papel, realmente esteve perdido por um tempo e só foi descoberto por acaso, quando foi encontrado entre algumas palhas no chão de um armazém onde seu filho tinha guardado alguns instrumentos musicais!

A outra razão para essa situação encontra-se no próprio Charles. Muito modesto, não achou que valesse a pena publicar seus próprios escritos. Ele escrevia todos os dias, com rras exceções e isso era uma forma de expressar sua devoção pessoal a Deus. Era, como bem expressa em um de seus mais belos poemas, “a conversa sem fim” que tinha com seu criador. Charles também foi muito menos meticuloso que seu irmão. Muitas vezes sua correspondência não tinha qualquer data ou assinatura.  Às vezes, ao escrever para a família ou amigos íntimos, suas cartas omitiam esses detalhes.  Além disso, sua caligrafia não é muito fácil de ler e as cartas, muitas vezes com o uso de abreviações, são intercaladas com frases em latim e grego.

É verdade que ele foi ofuscado por seu irmão mais velho e “durante toda sua vida manteve o costume de dar lugar a John”.[i] No entanto, Charles era bem capaz de pensar e agir independentemente.  Foi ele, e não John, quem primeiro foi apelidado de “metodista” e sua própria busca pela paz de espírito tomou um caminho diverso entre 1736 e 1738.  Além disso, os irmãos nem sempre concordavam em tudo.  Charles, como pessoa, foi um homem de grande profundidade e humanidade; tinha, de certa forma, uma personalidade mais atraente do que a de John.  John – uma personalidade forte, dinâmica, que às vezes podia exibir uma rispidez e uma severidade que intimidava seus colegas – tinha os dons naturais de um líder pelos quais os metodistas sempre serão gratos.

Charles, pelo contrário, era agradável, sociável e possuía ao todo um caráter bem mais gentil.  É principalmente como o “doce cantor” do Metodismo que Charles é lembrado e sua contribuição para as igrejas cristãs é única. Quando John fez uma pequena homenagem, na Conferência de 1788, pela recente morte de Charles, comentou que “por último, e não sem menor valor, ele iria elogiar o talento de Charles para a poesia”. Esta foi uma homenagem genuína, nascida de uma percepção aguçada das qualidades inerentes a Charles e da compreensão do caráter de seu irmão ao longo da vida.  Eis um de seus hinos:[1]

Quando em casa descanso (When quiet in my house I sit)

Letra: Charles Wesley, 1762
Tradução: Simei Monteiro, 2006

 

Quando em casa descanso dos trabalhos do dia,
o teu livro sagrado companhia me faz.
Relembrar teus ensinos me traz plena alegria
e falar do que queres: da beleza e da paz.
Creio em tuas promessas; dá-me clara visão
e palavras sinceras no meu coração.

Sejam vivas, graciosas, as palavras divinas:
o assunto do dia e a conversa sem fim.
Companheiro constante pelas ruas e esquinas,
vais andando, falando e tocando em mim.
E eu, sentindo a presença de tua graça e calor,
sigo, ardendo na chama infinita do amor.

Já bem tarde, o cansaço me convida ao descanso
e nas tuas palavras amorosas gentis,
me recebes, me aceitas, com doçura, tão manso,
me embalando no abraço que me torna feliz.
Mergulhando nos sonhos das bondades além,
antecipo, contente, as visões do teu bem.

Madrugada, eu desperto, pra cantar teus louvores
pelas horas do dia, pelo tempo a passar.
Que as palavras da graça, transbordantes favores,
do meu íntimo brotem junto ao dom de falar.
Vem encher minha vida da pureza do amor
e me eleva ao teu céu, na tua Igreja, Senhor!

 

[1] Veja-se esse hino: letra e música no site: hinologia.org

Editora Sal Cultural - Coleção Grandes Temas da Teologia

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