Por Eduardo Vasconcellos

Sempre considerei a história uma disciplina muito rica, cheia de fatos e acontecimentos capazes de produzir conhecimento através das experiências de seus personagens, suas vidas e o contexto sócio-cultural em que viveram. Contudo, quando me deparo com a História de Israel, esse efeito tem um significado muito maior devido à intervenção direta de Deus, que escolheu essa pequena nação para tornar seu nome conhecido entre toda a terra. Isso porque, a participação divina não é coadjuvante mas torna-se protagonista justamente da transmissão do conhecimento, da mensagem que fica após os anos vividos tornarem-se passado. Em alguns casos, acontecimentos anunciados através de profecias transformam-se no tempo presente de nossos personagens. Como diz Schokel (2004), “a palavra profética tem a função teológica de interpretação da história”.

Outro componente que concorre para isso é a figura do profeta dentro da história israelita devido ao importante significado que este adquire na vida religiosa do povo de Deus. Sendo que no contexto israelita-judaico é praticamente impossível separar a vida civil, secular, da vida religiosa – elas tendem a ser a mesma vida, o profeta se encaixa na vida social e religiosa como um personagem que está ali para cumprir um propósito divino; sua identidade está vinculada a esse papel de porta-voz que ele assume. Assim, o profeta não pode ser estudado longe daquela comunidade onde ele viveu e profetizou as palavras de Deus porque sua vida esta unida à do povo e ao seu período histórico. Ele dá continuidade a mensagem divina através dos tempos.

Nos anos de seminário me aproximei de alguns personagens históricos e de alguns assuntos com maior curiosidade. A vida dos profetas foi um desses temas; o profeta Ezequiel foi um desses personagens. Logo aprendi que para estudar a vida de Ezequiel e sua profecia deveria antes me aproximar da História de Israel e delimitar o seu contexto: estamos na decadência do período monárquico, época em que o povo foi levado cativo para a região da Babilônia e ocasião em que a Glória de Deus deixou o Templo de Jerusalém. No entanto, havia uma determinação de Deus para restaurar sua nação.

Este trabalho pretende mostrar como alguns acontecimentos marcariam para sempre a nação israelita e ajudaria a transformar um povo rural, indiferente à palavra de Deus e idólatra, num país com visão cosmopolita, zeloso pela palavra e com governo teocrático. São eles: a queda da monarquia de uma nação que há poucos anos atrás despontava como uma potência bélica e comercial na região; a saída da terra prometida para uma terra estranha cuja língua não era de pleno domínio do povo; e a ausência de um Templo que existia com a finalidade de que Deus fosse cultuado.

Na verdade, este livro é apenas a primeira parte de uma pesquisa mais profunda sobre o profeta Ezequiel, sua profecia e as mudanças que ocorreram na religião israelita após sua passagem pela Babilônia, depois dos anos de cativeiro naquela região. Como o propósito restaurador de Deus conduziu seu povo de Israel até a Babilônia e o trouxe de volta a sua terra é o fio condutor da mensagem. Ainda que seja a primeira parte dessa trilogia, este ensaio não perde seu valor próprio e particular, pois seu tema está delimitado em analisar sobretudo dois aspectos específicos: 1) a relação de Deus com Israel revelada no curso de sua história; 2) o chamado do profeta Ezequiel.

Dessa maneira, acredito que o presente livro será de grande utilidade para os seminaristas e estudiosos da Bíblia em geral, especialmente aqueles afeiçoados às páginas do Antigo Testamento, onde podem encontrar verdadeiros tesouros de sabedoria proveniente do celeiro divino. Ao distinto leitor, estimo que a leitura deste ensaio produza satisfação semelhante a que senti ao escrevê-lo.

Editora Sal Cultural - Coleção Grandes Temas da Teologia

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