Por Alcimar Laurentino dos Santos
No início e final de cada ano, somos impulsionados a pensar mais gravemente sobre a questão da vocação pastoral. Entre outros motivos, porque é neste período que ocorrem as entrevistas dos candidatos ao ministério na Igreja do Nazareno na maioria dos Distritos no Brasil. A responsabilidade pela avaliação destes candidatos é da Junta de Credenciais Ministeriais que, entre as suas várias funções, tem a responsabilidade de “examinar e considerar cuidadosamente todas as pessoas devidamente apresentadas à Assembleia Distrital para eleição para a ordem de presbítero, ordem de diácono e licença de ministro”[i]. O método de avaliação pode variar nas diversas Juntas, mas, no geral são avaliadas questões relacionadas à teologia armínio-wesleyana, governo da denominação, família, ética, e, claro, a questão da vocação pastoral.
O momento que vivemos é grave em relação à vocação pastoral. A meu ver, dois grandes problemas que enfrentamos nesta área estão relacionados à profissionalização do ministério pastoral[ii] e a falta de convicção do chamado. Estes dois problemas tem levado muitos pastores à crises profundas, e não poucos são aqueles que estão deixando o ministério pastoral.
Em termos de dimensão da vocação, em que pese o fato de Deus ter chamado a cada um de nós evangelicamente, a todos que são salvos Ele chama para servi-lo em alguma área específica; neste caso, alguns são chamados para serem pastores de rebanhos, ou seja, pastorear a Igreja do Senhor. Suas principais funções são: aconselhamento, assistência de um modo geral, discipulado, docência, doutrinação, visitação aos necessitados, evangelismo, pregação da Palavra, etc.[iii]
Surge a questão: Por que é necessário que o candidato ao ministério pastoral tenha profunda convicção do seu chamado? Sudgen e Wiersbe afirmam: “A obra do ministério é muito desgastante, sendo difícil para um homem entrar nela sem uma consciência do chamado divino. Em geral, os homens entram e depois saem do ministério, pois lhes falta uma consciência da urgência divina. Apenas um chamado definido por Deus pode dar a alguém sucesso no ministério”[iv]. Erwin Lutzer diz: “Não vejo como alguém possa sobreviver no ministério, caso sinta que essa foi sua escolha própria (…) Eles são sustentados pelo conhecimento de que Deus os colocou onde estão. Os ministros sem essa convicção carecem muitas vezes de coragem e carregam uma carta de demissão no bolso do paletó. Ao menor sinal de dificuldade, vão-se embora”[v].
Apesar de toda a urgência e volume de trabalho que o movimento wesleyano enfrentou nos anos mais cruciais, John Wesley e seus seguidores sempre deram muita atenção a questão do ministério pastoral. Na terceira conferência promovida pelos metodistas, uma questão crucial foi levantada: “Como testar aqueles que se julgam movidos pelo Espírito e chamados por Deus para pregar o Evangelho?”. A conferência considerou três aspectos principais: 1) Sabem em quem tem crido? Possuem o amor de Deus em seus corações? Almejam por Deus e não buscam outra coisa? São puros e santos em suas conversas? 2) Possuem dons (tanto quanto graça) para a Obra? Possuem uma boa e clara inteligência? Julgam corretamente as coisas pertencentes a Deus? Possuem um conceito justo da salvação pela fé? Deus lhes tem dado até certo ponto o dom da palavra? Falam com facilidade, clareza e justiça? 3) Tem êxito em seus trabalhos?[vi]. Essas eram perguntas feitas a todos que pretendiam se juntar para o ministério itinerante. Os candidatos eram investigados quanto às suas aptidões, sendo examinados minuciosamente, somente depois eram admitidos na Conferência numa cerimônia solene com jejuns e orações. Inicialmente, eram considerados noviços, e na Conferencia seguinte resolvia-se definitivamente a respeito de sua competência. A respeito disso Wesley dizia: “Não queremos nos precipitar; desejamos simplesmente seguir a providência divina conforme ela nos ilumina”[vii].
Para nós que seguimos a tradição wesleyana é relevante, apesar de tantos anos passados, lançarmos um olhar sobre os questionamentos feitos pela Conferência metodista a respeito da convicção do chamado para o serviço da pregação, e avaliarmos como estamos em termos de caminhada vocacional pastoral.
A brevidade deste artigo não nos permite uma análise aprofundada daquilo que a Conferência trouxe para a reflexão dos aspirantes ao ministério. Contudo, podemos realizar uma análise de caráter geral, e tratarmos os aspectos principais.
Podemos observar que é levada em conta, primeiramente, a relação do candidato com Deus (Sabem em quem tem crido? Almejam a Deus? São puros e santos?). Todos nós que caminhamos no ministério sabemos da relevância em caminharmos numa relação de intimidade com Deus. Sabemos que se não mantivermos esta relação de proximidade e dependência podemos sucumbir com facilidade. Neste sentido, é fundamental que examinemos nossa trajetória e atividades, pois, muitos tem se envolvido tanto com atividades eclesiásticas que não tem podido ter tempo para uma relação de intimidade com Seu Criador.
Em segundo lugar, entre outros temas, trata-se da questão do dom (possuem dons para a obra? Tem o dom da Palavra?). Sem desejar um aprofundamento dada a brevidade do trabalho, como já comentado, sabemos que se não tivermos o dom outorgado por Deus para o exercício do ministério pastoral não conseguiremos realizar a obra com êxito. Não tenho dúvidas que muitos estão no ministério sem o devido recebimento deste dom; contudo, sofrem terríveis angústias e dores, pois o ministério se torna algo pesaroso e difícil. Sem falar que levam o sofrimento às suas famílias e congregações. Há convicção no nosso coração de que fomos chamados por Deus para tão maravilhoso ministério? Sondemos nossos corações.
Numa época de transições, incertezas e inseguranças; num tempo de tantas confusões doutrinárias e eclesiásticas, num tempo de conflitos, fluidez e desistências em termos de chamada vocacional, que possamos lançar um olhar sobre os antigos postulados de nossa tradição, tendo-os como norteadores para nossa caminhada vocacional, bem como, buscar a cada dia a graça de Deus, mantendo com Ele uma relação de intimidade e dependência, e sabendo que Nele nosso trabalho ministerial, por mais ardoroso que possa ser, não é vão.
[i] Manual da Igreja do Nazareno 2013 – 2017, Artigo 228, Parágrafo 1.
[ii] Sobre o tema de “profissionalização do Ministério”, julgo relevante a leitura do Livro “Irmãos, nós não somos profissionais – um apelo aos pastores para ter um ministério radical” de John Piper, SheddPublicações.
[iii] CÉSAR, Kléos Magalhães Lenz. Vocação: Perspectivas Bíblicas e Teológicas. Viçosa: Ultimato, 1997, p. 23, 24 e 44.
[iv]SUDGEN, WIERSBE, WhenPastors Wonder How, Chicago: Moody, 1973 apud MACARTHUR, John. Redescobrindo o Ministério Pastoral: moldando o ministério contemporâneo aos preceitos bíblicos. Rio de Janeiro: CPAD, 1998, p.128.
[v] Idem, pg. 129.
[vi] SMITH, Historyof Wesley and Methodism, Tomo I, p. 229 apud LELIÉVRE, Mateo. João Wesley, Sua Vida e Sua Obra. São Paulo: Vida, 1997, p. 240.
[vii]LELIÉVRE, Mateo. João Wesley, Sua Vida e Sua Obra. São Paulo: Vida, 1997, p. 240.
Muito bom!