Por Stephen Heap

Graça radical foi a mensagem e a missão dada pelo Espírito Santo aos irmãos João e Carlos Wesley no século 18. Não é necessário ser um sociólogo e nem um profundo pesquisador das realidades sociais deploráveis desse dia para entender porque o Espírito Santo colocou no coração desses dois ministros uma chama ardente que os levou fora da igreja para também pregar às camadas mais sofridas da sociedade.

Podemos atribuir ao Espírito Santo o papel de: “Deus no Tempo Presente”, ou “Aquele que vem para ensinar, corrigir, purificar e lembrar a igreja de tudo o que Cristo fez e ensinou.” O Novo Testamento, vez após vez, nos lembra que Cristo tinha prazer de estar com os necessitados, para curá-los e ajudá-los. A igreja institucional do dia dos Wesley tinha praticamente se esquecido dos menos abastados. Mas o que hoje chamamos o Avivamento Wesleyano foi a faísca que o Espírito Santo atiçou até se tornar uma grande chama motivadora que levou gerações a volta do mundo pregando e agindo à semelhança de Cristo.

O Espírito Santo colocou nesse povo uma “dis-posição” para abrirem mão de posição e, seguindo nas pegadas do Mestre, servirem aos “des” do dia.  Os des-privilegiados, des-camisados, des-afortunados e os des-empregados.  Os “des-graçados” foram transformados pela graça de Deus que foi manifesta através do abraço da comunidade da fé.

O resultado de uma pessoa receber a graça transformadora de Deus e o abraço acolhedor da igreja local é que começa uma reação em cadeia que tem início com o indivíduo, passa para a família e para a sociedade. Pessoas que antes não tinham a mínima esperança nem motivação de serem herdeiros dos benefícios dos filhos de Deus (de viver em paz com Deus e seu próximo) passam a abraçar valores que os elevam e tomam o caminho que os liberta de serem escravos da pobreza.

O resultado é que o pai que antes não tinha motivação ou imaginava impossível cuidar da sua família passa a encontrar motivação e meios para ajudar os filhos saírem da miséria.  O benefício do Evangelho é evidente ao ponto de ter sido qualificado por alguns cientistas sociais de forma quantitativa.  Essa transformação é às vezes denominada por eles de “social lift”.

Esta transformação – “social lift” – traz em si o risco de desvio para a igreja.  A tendência é da igreja é se torna cada vez mais uma sociedade de classe média que se esquece de onde o evangelho ergueu seus pais. E, infelizmente, as vezes de forma despercebida vai criando uma barreira entre os novos privilegiados e os menos privilegiados. Os dois grupos não sabem falar a língua do outro e nem se sentem à vontade na presença do outro. Em questão de apenas uma geração os que usufruíram da graça libertadora de Deus chegaram a se distanciar das realidades do “povão” ao ponto de não saber como se comunicar nem entrar em um relacionamento de encarnação.

A tendência da primeira geração é de se distanciar (muitas vezes sem perceber) dos mais necessitados da nossa sociedade e já na segunda geração ela começa a justificar a construção de templos e um estilo de vida suntuoso como sendo “direitos dos filhos do Rei”.

Pela minha ótica de 40 anos no Brasil, nossa comunidade evangélica está justamente nesta encruzilhada.  O evangelho no século passado muitas vezes chegou através de missionários às camadas mais necessitadas da sociedade. As congregações fielmente proclamaram as boas novas da salvação.  Pais que carregaram do sitio calçados na mão para poder calcar logo antes de entrar no templo, com muito amor se sacrificaram para seus filhos terem uma formação espiritual e acadêmica. As congregações com toda razão celebraram quando os filhos voltaram para casa com seus diplomas, carros e profissões. E os filhos, algumas vezes lembram outras vezes se esquecem, de que seus pais – alguns mal sabiam ler, com grande sacrifício tinham lhes passado os tesouros do Evangelho e junto às boas novas, uma vida mais confortável.  Mas ao mesmo tempo, sem querer, os tinha distanciado das suas raízes sócio-econômicas.

Hoje Deus está procurando mulheres e homens que possam trazer avivamento à igreja evangélica brasileira.  Um avivamento que entre outras coisas traga o corretivo do Espírito Santo para uma teologia deturpada de prosperidade cristã e nos leve de volta para a missão de Deus.  A missão que levou Deus a abrir mão de Suas prerrogativas e, em Jesus Cristo, encarnar para viver entre homens que tinham sofrido todos os efeitos desastrosos do pecado.

O livro Graça Radical, que foca na vida e ministério de Carlos Wesley, fala de Deus, o Espírito Santo, que trouxe correção à igreja do século 18.  Em grande parte, a transformação aconteceu porque João e Carlos Wesley souberam fazer as mesmas perguntas que o Apostolo Paulo fez em Romanos 10:11-15.

“Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. ¶ Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas.”

O Apostolo afirmou os benefícios da graça de Deus, mas ele foi além e definiu com perguntas perspicazes os passos a serem tomados para essa graça ser encarnada na cultura pagã e hostil do primeiro século.  O autor do livro Graça Radical, S.T. Kimbrough Jr. explica que Carlos Wesley, seguindo a orientação do Espírito Santo, soube contextualizar o evangelho para o século 18. O Espírito Santo está nos convidando a aprender com Ele em pleno século 21.

* Apresentação do livro: Graça Radical, de S T Kimbough Jr., Tradução de Glória Hefzibá. Maceió: Sal Cultural, 2015.

Editora Sal Cultural - Coleção Grandes Temas da Teologia

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